Desde 2021, quando o grupo fundamentalista Talibã voltou ao poder no Afeganistão, seus cidadãos têm buscado refúgio em outros países, inclusive no. Brasil, que tem um posto de atendimento do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Um desafio, no entanto, é facilitar a entrada dos afegãos no mercado de trabalho, o que exige adaptações nos processos de seleção.
A questão foi discutida nesta quinta-feira (12) na sede da Câmara Americana de Comércio (Amcham), na capital paulista. No evento, o representante adjunto do Acnur no Brasil, Oscar Sánchez Piñeiro, disse que 80% dos afegãos refugiados têm pelo menos o ensino médio completo e que 59% concluíram o ensino superior ou mesmo uma pós-graduação. Isso significa que se trata de um contingente com qualificação, destacou.
Mesmo com alto nível de educação formal, os afegãos, assim como outros imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil, esbarram em uma série de obstáculos ao se candidatar a uma vaga de emprego. Por esse motivo, o Acnur recomenda que, ao abrir as portas para eles, as empresas atentem para alguns aspectos. As companhias devem procurar oferecer vagas que não exijam fluência em português, um idioma muito diferente do que é falado no Afeganistão.
Outra sugestão é indicar um funcionário como referência para o qual o colega afegão possa recorrer, durante o processo de integração, depois de admitido na empresa, como observa a assistente de Soluções Duradouras do Acnur, Camila Sombra. “O que ajuda a desenvolver a fluência no idioma é justamente a convivência”, afirma Camila.
A chefe do escritório do Acnur em São Paulo, Maria Beatriz Bonna Nogueira, ressaltou que, até poucos anos atrás, as práticas chamadas de ESG (Environmental, Social and Governance, sigla que pode ser traduzida como ambiental, social e governança) nem sequer mantinham em seu radar as necessidades de refugiados, questão humanitária que ganhou mais atenção apenas recentemente.
Segundo Maria Beatriz, não basta emitir a documentação dos afegãos, sem promover verdadeiramente sua integração à sociedade brasileira. “É um trabalho que só se concretiza com o engajamento de toda a sociedade. Não adianta ter direito à carteira de trabalho se uma carteira de trabalho recém-tirada, ‘limpa’, não é vista com bons olhos na hora da contratação”, enfatizou.
De acordo com levantamento do Acnur, a maioria dos afegãos atendidos pela agência é de profissionais jurídicos, sociais e culturais, como jornalistas, advogados, assistentes sociais e economistas. O segundo maior grupo é o de profissionais da área de educação. Em seguida, vêm gerentes administrativos e comerciais, profissionais de negócios e administração, de saúde, militares e pessoal da área de segurança, além dos que atuam nos campos de ciência e engenharia e dos técnicos de informação e comunicação. Em menor número, estão os vendedores.