Em 11 de maio, o Dia do Reggae, Salvador receberá uma programação diversificada em homenagem ao estilo musical. Festivais, como o Salvador Cidade Reggae, entre outros, vão agitar a capital baiana. Contudo, de onde vem à afeição dos baianos pelo gênero e quem se movimentou para trazer e fomentar a expressão sonora no estado? Um desses nomes é Albino Apolinário, empreendedor e agitador cultural que desde 1970 já tocava a música reggae no bar da sua família e atraia os amantes das mensagens de paz, amor e união dos povos das canções Bob de Marley.
A história
Em 1981, foi criado no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, o Bar do Reggae, o primeiro da cidade dedicado ao ritmo jamaicano tão popular na Bahia. O estabelecimento surgiu do impacto que a música de Bob Marley causou em Albino, que além de ser um point de quem amava samba, passou a chamar atenção dos visitantes para o som da Jamaica.
A música jamaicana, então, penetrou as mentes e corações dos baianos e influenciou artistas como Gilberto Gil, Lazzo Matumbi e Edson Gomes e contribuiu para a criação do gênero mais característico da música feita em Salvador, o samba reggae, responsável por uma revolução rítmica por meio dos blocos afro.
Há 24 anos, a cidade de Salvador instituía 11 de maio como o Dia do Reggae, com aprovação da Lei Municipal nº 5.817/20. A data escolhida homenageia o cantor e compositor jamaicano Robert Nesta Marley, Bob Marley, que faleceu em 11 de maio de 1980, após popularizar internacionalmente o ritmo por meio de canções que pregavam o amor, o respeito e a união entre os povos.
A lei oficializou uma paixão pelo reggae que a população baiana já expressa há décadas, sendo responsável por uma revolução rítmica, quando os sons da Jamaica se encontraram com a batida percussiva dos tambores dos blocos afro. A união de ritmos e mensagens emancipatórias se efetivou sob a regência do mestre Neguinho do Samba, criador do samba reggae, gênero musical que deu identidade à musica da Bahia e consolidou o carnaval de Salvador como uma das maiores expressões culturais do planeta.
Toda essa transformação tem como lugar inicial o Centro Histórico de Salvador. A partir da década de 1980, o Pelourinho, palco de intensa movimentação artística e política da população de Salvador, presenciou a expansão do reggae nas batidas de blocos afro como Olodum e Muzenza, e também nas músicas entoadas em estabelecimentos dedicados ao ritmo, como o Bar do Reggae, o pioneiro, criado por Albino Apolinário em 1981.
“O reggae é uma representação de resistência e merece cada vez mais destaque na cena baiana. Neste mês de maio, o que não falta são eventos sobre o reggae. Contudo, precisamos que as iniciativas em relação a esse gênero musical tão importante continuem em outros calendários. Precisamos de ações concretas para que essa cultura continue sendo fomentada no estado”, diz Albino.
O Bar do Reggae ajudou a divulgar o ritmo, contribuindo para torna popular as mensagens pela liberdade igualdade dos povos e contra a guerra. O próprio Albino foi responsável, na década de 1990 pelo Negros Bar, que inovou ao projetar os videoclipes de reggae, que já havia se tornado uma sensação musical mundial.
Albino Apolinário de Santana nasceu em 16/05/1964 em Salvador e tem a vida entrelaçada com a história do Pelourinho, onde nasceu e ainda reside aos 60 anos. Neto de Dona Alzira do Conforto, da famosa Cantina Santa Bárbara, reduto da boêmia do Centro Histórico e filho de Aurino Apolinário de Santana e Iraci Oliveira Leão, também comerciante do Centro Histórico, onde era conhecida carinhosamente como Dona Gorda.
Crescido no Pelourinho, na década de 1960, quando o local era marcado pela pobreza, violência e repressão policial, com pouco prestígio e ausência de políticas públicas. Aos 24 anos, Albino tornou-se uma figura notável na cidade devido ao sucesso do Bar do Reggae, que ele administrava e que o levou a outros empreendimentos culturais como o Negros Bar, que funciona desde 1994 e o Ska Reggae, o primeiro bloco de reggae do Carnaval de Salvador, que desfila no Carnaval desde 1995.
Em 1998, em homenagem à sua avó, fundou a Associação Comunitária Alzira do Conforto, uma ONG responsável por diversas ações de valorização da história, cultura e religiosidade do Pelourinho, como a Praça do Reggae, a Caminhada Azoany, o Padê a Raimundo Bouzanfraim e Reggae, o Bloco, que em 2025 completará 18 anos de resistência, proporcionando à comunidade do Centro Histórico a interagir com os amantes do reggae de toda Salvador e de outras cidades do mundo. Em 2025, Reggae, o Bloco vai homenagear o Maranhão, cuja cidade de São Luís é considerada a capital nacional do reggae.
A contribuição de Albino Apolinário para o reggae na Bahia é imensurável. Como um dos pioneiros a trazer esse gênero musical para o Pelourinho, ele não apenas proporcionou um espaço para a celebração da cultura negra, mas também ajudou a elevar o reggae como uma forma de resistência e expressão artística na região.
Por meio de seus bares, como o Bar do Reggae e o Negros Bar e da Praça do Reggae, Albino não só promoveu a música reggae, mas também criou um ambiente inclusivo e acolhedor para os amantes do gênero se reunirem, compartilharem ideias e celebrarem sua identidade cultural.
Além disso, Albino foi fundamental na organização de eventos e festivais de reggae na Bahia, proporcionando uma plataforma para artistas locais e internacionais mostrarem seus talentos e ampliarem o alcance da música reggae na região.
Uma das maiores bandeiras de Albino Apolinário neste momento é entregar de volta a Salvador e aos amantes do reggae no mundo, a Praça do Reggae, estrategicamente localizada no Largo do Pelourinho. Neste momento, inicia um projeto de reforma e revitalização da Praça do Reggae, e que se transformará em um centro de formação e produção multimídia para despertar e valorizar talentos negros nas artes, na comunicação e nas tecnologias.