Como parte da programação do mês de outubro, a Gerência de Bibliotecas da Fundação Gregório de Mattos (FGM) tem promovido oficinas de trança e saraus nos equipamentos municipais de leitura. Os ensinamentos sobre a tradição de penteados foram repassados a 20 adolescentes, na Biblioteca Denise Tavares, na Liberdade. Intitulada de “Arte do Orí – Uma vivência acerca do Patrimônio Cultural Imaterial”, a oficina oferta uma vivência sobre a tradição de fazer tranças, além de dinamizar o uso da biblioteca, aproximando o equipamento da comunidade.
Uma das primeiras a se inscrever na oficina, a adolescente Isabela Dias, 12 anos, moradora da Travessa São Paulo, participou do curso no turno matutino. Enquanto trançava o cabelo da colega para treinar o aprendizado adquirido, a menina comentou sobre a satisfação de aprender a técnica. “Levo jeito. Desde criancinha que já fazia os penteados nos cabelos das bonecas. Tem mais ou menos uns dois anos que tranço os cabelos da minha irmã e das primas. Agora com o que aprendi aqui, quem sabe não consigo ganhar um dinheirinho”, brincou.
Para Catarina Lima, 26 anos, professora de História e trancista desde os 12 anos, as oficinas são de grande valia para as adolescentes. Segundo ela, os ensinamentos resgatam a questão histórica e fortalecem a autoestima. “Começamos aqui de maneira lúdica, mas de repente pode sim ser uma fonte de renda”, diz.
Antes das aulas práticas sobre como trançar o cabelo e inserir fios em fibra para dar formato aos penteados, a professora fez questão de contar um pouco sobre a origem da técnica. “As tranças acabam tendo um papel muito importante na resistência negra contra a escravidão. Por exemplo, muitas vezes o cabelo era trançado como um mapa com caminhos para os quilombos. A trança acaba tendo um papel importante de resistência e sobrevivência das nossas negritudes”, explica.
No meio das adolescentes, estava a dona de casa Elida Rocha, 54 anos. Questionada sobre o objetivo da oficina, disse que buscou o curso para trançar o cabelo da própria filha. “Acho tão bonito. Agora eu mesma vou fazer”, afirma.
As oficinas vão passar ainda pelas bibliotecas Nair Goulart (Valéria) e Professor Edgard Santos (Ribeira). Como ponto alto do projeto, haverá uma apresentação de seis trabalhos das instrutoras trancistas no dia 22 de novembro, em horário e local a definir.
Aproximação – A série de atividades das bibliotecas contempla uma programação cultural com a realização de dois saraus, nos dias 19 e 20, nas bibliotecas Denise Tavares e Professor Edgard Santos, respectivamente. A gerente de Biblioteca, Livros e Leitura da Fundação Gregório de Matos (FGM), Jane Palma, ressalta que atualmente as bibliotecas de Salvador desenvolvem políticas públicas de incentivo à leitura através de diversas ações socioeducativas que ampliam o conceito do espaço, como um centro de pesquisa, estudo e vivência cultural.
“Esse é mais um projeto que proporciona aos jovens das comunidades uma vivência para além do contato com os livros, uma atividade prática que vai fomentar o aprendizado e a valorização cultural e que irá transformar esses participantes em agentes multiplicadores desse conhecimento”, destaca a gestora.
Programação:
– 9/10 – Oficina Trancistas, às 10h e às 14h, na Biblioteca Pública Nair Goulart (Valéria).
– 11/10 – Sarau a partir das 10h, na Biblioteca Pública Nair Goulart.
– 17/10 – Oficina Trancistas, das 9h30 às 11h30 e das 14h às 16h, na Biblioteca Professor Edgard Santos (Ribeira).
– 19/10 – Sarau a partir das 10h, na Biblioteca Pública Denise Tavares (Curuzu).
– 20/10 – Sarau a partir das 14h, na Biblioteca Professor Edgard Santos.