A tentativa de excluir Capitães da Areia, de Jorge Amado, do currículo escolar em Itapoá (SC) motivou críticas do deputado Marcelino Galo (PT), em moção apresentada na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). No documento, Marcelino condena a fala da vereadora Jéssica Lemoine (PL) durante sessão na Câmara Municipal de Itapoá, em que solicitou a retirada do livro das escolas públicas do município catarinense.
“Capitães da Areia é, há décadas, unanimidade nas escolas do Brasil”, afirmou Galo, ao justificar a moção. Publicado em 1937, o romance retrata a vida de meninos em situação de rua em Salvador e é considerado uma das obras centrais do neorrealismo brasileiro.
Para a vereadora, no entanto, o livro “promove a marginalização infantil e romantiza o estupro e a relação sexual entre adultos e crianças”. Durante a sessão legislativa em que defendeu a retirada da obra, Jéssica Lemoine disse que a classificação indicativa do título teria sido “propositalmente reduzida”, o que teria permitido sua leitura por alunos do 7º e 8º anos.
A legislação brasileira, porém, não estabelece classificação indicativa para livros — apenas para filmes, como é o caso da adaptação cinematográfica de Capitães da Areia, dirigida por Cecília Amado em 2011 e recomendada para maiores de 14 anos.
Segundo Marcelino, a vereadora não apresentou documentos que sustentassem sua argumentação, alegando ter sido procurada por pais de alunos. Ela também associou Jorge Amado ao comunismo e sugeriu que a presença de sua obra no ambiente escolar seria uma estratégia da esquerda para influenciar a educação.
Apesar disso, afirmou que não pretende remover o livro das bibliotecas municipais, por ser leitura cobrada em vestibulares. Para Lemoine, a restrição não configura censura, mas uma forma de “resguardar crianças e adolescentes”.
Ao concluir a moção, Marcelino Galo pediu o envio formal do documento à Câmara Municipal de Itapoá, em Santa Catarina.