A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realizou, na manhã desta quarta-feira (24), a 3ª edição do Seminário Religiões de Matriz Africana e Saúde: reconhecimento, valorização e preservação das práticas de cuidados. O evento aconteceu no Terreiro Bate-Folha Manso Banduquenqué, localizado em Mata Escura.
A atividade reuniu cerca de 100 profissionais de saúde, e teve como objetivo qualificar os trabalhadores da atenção primária da rede municipal de saúde de Salvador acerca dos saberes das religiões de matriz africana e seus processos de adoecimento e cura. Durante a reunião, os presentes puderam ter uma experiência com a degustação de chás naturais, além de participarem de uma experimentação de biodança e assistirem a palestras que abordaram temas como a religião como ferramenta para existir em espaços de isolamento e restrição social, a tradição, ciência e saúde das folhas sagradas em terreiros e a assistência em saúde segundo a prática transcultural.
De acordo com Jéssica França, técnica do campo temático de Saúde da População Negra da SMS, esse é um importante passo para o processo de reconhecimento e valorização das práticas curativas oriundas do povo de santo. “A gente reconhece que as práticas curativas naturais são complementares às do SUS (Sistema Único de Saúde), pois, além do processo de prescrição de medicamentos e de entender as questões de saúde e doença, é necessário que os profissionais das unidades de saúde também compreendam a contextualização cultural e social do paciente”, explicou.
A técnica reforça ainda que a interação entre as religiões de matriz africana e a saúde destaca a complexidade e a riqueza dessa relação na busca da concepção holística de bem-estar, a exemplo do uso de ervas medicinais e rituais específicos, integrados em práticas de cura tradicionais. “Entender como as religiões africanas percebem a saúde e a doença, muitas vezes integrando aspectos físicos, mentais e espirituais, corrobora para a realização de um cuidado integral”, finalizou.
Além de qualificar os profissionais, o seminário teve como objetivo principal o combate à intolerância e o racismo religioso pela rede de saúde SUS e a diminuição de potenciais conflitos entre a medicina convencional e as práticas tradicionais.
Iranildes Caetano, de 43 anos, é uma das administradoras do Distrito Sanitário de Pau da Lima. Ela destaca a necessidade da atenção a todos nos atendimentos de saúde, sobretudo à população negra. “A qualificação nos permite a desconstrução. Vivemos em uma cidade que possui uma população majoritariamente negra, então é nosso dever dar a devida valorização ao usuário dos nossos serviços para que ele se sinta devidamente acolhido, seguro, reconhecido e respeitado”, ressaltou.